quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A Minha Cidade I

Hoje, ao ter descoberto o blog “Nós Por Cá... em Faro”, que recomendo, lembrei-me da minha “terrinha”... Não se pode dizer que Faro tenha o Romantismo do Porto ou de Coimbra, nem a nostalgia de Évora ou a aristocracia de Portalegre ou Braga... mas tem uma coisa que marcou gerações de farenses. Não é a Sé Catedral, nem a Doca que agora parece ter sido devolvida, pouco a pouco à cidade, nem a Ria Formosa que a abraça ignorada pela própria cidade, nem o mosaico romano, nem o Hotel EVA, nem o Cemitério Judeu, nem o Teatro Lethes.
Falo de algo que paira na memória e que permanece meio esquecido, meio lembrado, mas ainda assim ignorado, sem que recordemos o fascínio com que olhávamos para ele na nossa infância.
As cores com que se iluminava nas noites quentes de verão, a forma como nos abraçava e nos dizia “OLÁ” sempre que chegávamos à Baixa, como na sua altivez, parecia troçar com a solenidade da procissão do Corpo de Deus. O olhar intelectual, porque usar óculos ainda parece conferir intelectualidade.
Mas hoje, com o avanço tecnológico, o cinema 3D, GPS’s e telemóveis que já fazem tudo menos telefonar, ele ou ela ainda continua lá, com os seus óculos, agora vintage, que tira e põe, e a sua cauda com as cores do arco-íris que nos leva a um tempo em que Faro tinha um cinema, a esplanada do coreto, no coreto, o mercado abastecedor ao pé do cemitério, o mercado que não parecia um pingo doce, sem qualquer desprimor para com o estabelecimento comercial em causa, a Bijou, as crianças que queriam e faziam mesmo fila para andar nos cavalos automáticos com música de Feira, o Macaco “Quiero ser como tu” que saudava quem entrava na Baixa pelo lado poente, e a Alameda que parecia um jardim ENORME, aos meus olhos.
Não quero que a minha cidade ande para trás, quero antes que ela avance, mas consciente do que foi, e que o crescimento se faz pela integração e não pela substituição de elementos urbanísticos. O Património de uma cidade não pode ser apenas o que é visível e reconhecido por todos como património, mas também o que afectivamente conta a nossa história.
Em Faro, existe um gato com óculos. Os óculos aparecem e desaparecem, e a cauda sobe e desce numa diversidade de cores que já foram todas as cores possíveis. Hoje, ele ou ela, ainda nos diz “olá” sempre que entramos na Rua de Santo António, mas nós já não lhe respondemos... e, ele ou ela, continua, até que um dia uma directiva camarária proíba os néons na Rua de Santo António, como atentado ao bom gosto. Mas, ele ou ela, não é um néon é o Gato ou a Gata da óptica Graça que como uma tia velha, como a vizinha que nos habituámos a ver à janela nos diz “Olá”.
Ali temos marcada a fronteira do que Faro foi e do que Faro é, naquele néon que era ENORME e colorido, e hoje é insignificante e tem quatro cores... Mas é um velho amigo, que quando o recordamos, nos leva à infância numa cidade meio esquecida, meio lembrada, mas ainda assim ignorada, a seis horas da capital, onde um Gato ou Gata de néon nos dava a sensação de vivermos em Chicago, Las Vegas ou Paris...


quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Desiderata

Sonhos.
Terra e Vénus.
Familia e amigos.
Amigos longe.
Amigos perto.
Um lápis para desenhar o teu rosto.
Um beijo de boas noites antes de adormecer.

Sabão para as minhas mãos.


Lágrimas de felicidade.

Sapatos debaixo da cama.

As tuas mensagens numa caixa.

Maças.


Rosas velhas como se fossem frescas.

Um céu de estrelas que são beijos.

Os teus olhos no meu pensamento.

Uma gaveta vazia para poder encher.

Um livro nunca começado, outro nunca acabado e um que leio de novo.


Um sorriso amigo e um abraço fraterno.

Uma rua para subir e escadas para descer.

Água doce, salgada, quente e fresca.

Leite.


Uns braços que se abrem.

Melhores notícias de longe...

O mar que nos tapa.

Um céu igual para todos.

Pão.


Relógios parados.

Cerejas em Janeiro.

Quatzos rosa e jades.

Areia do deserto e icebergues em copos de cristal.

Caixas de música e máquinas de escrever.

Fogo.


Cabelos ao vento.

Caminhos sem fim.

Vírgulas, vírgulas e pontos e vírgulas.

Cinzento, azul e branco.

Ar.


Rei de Copas e Às de Espadas.

O sabor dos teus lábios é cliché,

Mas as covas da tua face...

Um coração cheio.

Pontos de interrogação que só são exclamações.

Os Namorados.


Elfos, gnomos e princesas.

Arte.


Um Mundo Meu, em que Tu...