sexta-feira, 24 de julho de 2009

Porque

Porque continuamos a ser o nosso maior inimigo...
Porque continuamos a não ver, a não aceitar...
Porque ainda temos esperanças...
Porque deixamos ir...

Porque... são só respostas.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Tenho medo… tenho medo de não ser abraçado, de não conseguir dormir, de sopa quente, de espinhas no peixe, de portas trancadas, de bicos de fogão, de alergias, de cobras, de rir sem parar, de sorrir, de chorar, de lágrimas de alegria, de fotografias antigas, de palhaços, de urtigas, de que me vejam, de que me beijem, do Sol de Agosto ao meio-dia, da Lua nova, de descidas íngremes, de cartas sem resposta, de não acreditar, de não sonhar, de não gostar, de gostar, de caras feias, de caras bonitas, de filmes de terror, da minha arrogância, do abandono, da pobreza, de não ter força, de me entregar, de me defender, de galos, de sufocar, de perder os sentidos, do vazio, de fantasmas, de ver um pôr-do-sol sozinho, de multidões, de metros, do Natal sem enfeites, de beijos sem carinho, de fruteiras sem fruta, de não ajudar, de me intrometer, de pedir, de folhas de papel, do medo que tenho... e medo de voltar a ter frio, outra e outra vez.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

As Idades do Tempo

O Tempo é um lugar na nossa mente porque não existe tempo fora de nós.
O Tempo corrói o próprio tempo. Como uma força renovadora ele queima os campos que plantámos, os edifícios que construímos e as emoções que sentimos, as lágrimas que caem e os sorrisos que ainda sorrimos.
O Tempo cicatriza no próprio tempo. Como um bálsamo ele cura-nos ao aceitar as lágrimas que derramámos e os sorrisos que demos.
O Tempo esquece com o tempo, quando numa caixa de cartão o deixamos esquecer, o transformamos: as lágrimas secam e os sorrisos acalmam-se.
Por fim, o Tempo sorri ao novo Tempo, sempre que novas lágrimas nascem e ousamos sorrir de novo para o Tempo sem ilusões nem memórias.E nas suas idades o Tempo mostra a nossa inocência, nos cheiros que já não existem e naqueles que sabemos que não vão existir, porque o Passado e o Futuro dão lugar a um único Presente.

terça-feira, 14 de julho de 2009

A Minha Lisboa I

Todas as cidades têm sítios especiais, únicos e que quando descobertos são só nossos. A minha Lisboa tem alguns desses lugares mágicos que só eu consigo ver como meus.
O pontão do actual Museu da Electricidade é um desses lugares.
Quando os pescadores escolhem outros pontos para pescar, não consigo deixar de atravessar as condutas de água que antes abasteciam a fábrica. Passar aqueles silos é como regressar aos parques da infância, o perigo de escorregar, que não é na verdade um perigo, depois descer e sentar-me mais perto do rio.
Ali Lisboa junta o ar que entra pelo Tejo com cheiro a mar, o rio que corre já ao sabor das marés e o sol que aquece as colinas da outra margem.
A Ponte recorta-se à direita como uma passagem entre corações, o Cristo-Rei sorri-me de braços abertos, um barco à vela passa e o cacilheiro segue num movimento quotidiano sem fim.
Lá posso chorar, sorrir, rir, cantar, imaginar, sonhar, pensar e não-pensar. Perco-me num tempo que pára para mim, sinto-me sozinho, acompanhado, incompleto e pleno. É um promontório em Lisboa, onde o mundo pode acabar e começar. Onde posso saltar de coração no mais íntimo de mim e sem me perder, perder-me. Onde me encontro todas as vezes mesmo que perdido tente perceber o que passou, o que não regressa, os meus enganos, os meus erros e os meus sonhos. Ali por momentos acredito em qualquer coisa mais forte que a minha vontade e o meu desejo. Deixo o meu coração livre e peço que o vento leve para o rio as mágoas que ainda ficam e que o sol queime os sonhos que só existem na minha memória.
Há lugares em Lisboa só nossos porque nós nos damos a eles de corpo e alma.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A Liberdade

Passamos tanto tempo a prender-nos que nos esquecemos que somos livres por natureza. Prendemo-nos a coisas, a ideias, a pessoas e prendemo-los a nós como se a nossa liberdade dependesse de estarmos presos. Precisamos da validação dos outros, do seu amor, do seu respeito e não aceitamos que com isso não nos validamos, não amamos nem nos respeitamos por nós. Sempre que libertamos estamos também a libertar-nos.
Durante toda a nossa infância passámos tempos a ler histórias de pássaros feridos que depois de curados um sábio pai ou avô liberta, e a criança sente-se traída e sozinha, porque também ela ficou livre. A metáfora do pássaro curado é esquecida com o tempo, e passamos a amar pela necessidade de estar presos, do nosso amor depender de dizer que nos amam e nos querem.

E se de repente nos libertarmos e deixarmos que livres nos voltem a encontrar. O risco está tão somente na liberdade que ganhamos, porque os nossos pássaros nunca foram nossos de verdades, mesmo presos e com a asa ferida eles eram livres, e ao reconhecer que eles têm que voar, deixamos que todos os dias de manhã nos venham dar os bons dias ao beiral da nossa janela. E quando um dia deixem de vir dar os bons dias foi porque livres seguiram o seu voo.A Liberdade é uma força atroz que nos carrega de energia, que nos afoga nas possibilidades que nos apresenta e na necessidade de correr o risco de ser livres. Se um dia voltaremos a encontrar o pássaro livre, deixa de ser uma questão, porque não dependemos dele. Encontrar o pássaro de novo é tão-somente reconhecer que livres nunca o perdemos e que na liberdade dele ele encontrou a nossa.