segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Rosa Regina Inter Pares

Durante oito anos, uma das mais prestigiadas cantoras líricas europeias entrou no seu camarim e encontrou-o repleto de Rosas Brancas e Encarnadas.
Nascida em Lisboa, Regina Pacini viria a ser a voz mais apreciada da ópera do início do século. Marcelo Alvear, um jovem de uma família aristocrata Argentina, apaixona-se perdidamente por Regina e conquista-a com Rosas. Ela, Turandot conquistada, abandona a música e parte para o outro lado do Atlântico onde se torna na única primeira-dama estrangeira da Argentina.

Desde sempre que as flores e o amor andaram entrecruzando-se. Sejam rosas, camélias, jacintos ou lírio, elas conquistam um coração no simples gesto de as levar à face e cheirá-las. Apolo transforma o seu amado pastor em um Jacinto. Para Garrett a flor de amor é o Lírio. Marguerite e Violetta falavam por Camélias aos seus amantes e para Júlio Dantas há Rosas de todo o ano. Mais uma vez a rosa... Manuel María (1929-2004) escreve, o que é para mim, um dos mais belos poemas sobre rosas:

SEMPRE a rosa. Sempre:
a forma,
a cor,
o recendo,
a luz,
a perfeccian da rosa.
Prefiro a rosa vermella.
E amo a rosa branca porque,
cando lle digo simplesmentes: ROSA,
entrecerra os ollos,
treme e ruborece.

Cada flor trás em si uma ingenuidade e um ardor que ultrapassa o nosso imaginário.
Marcelo comprou todos os discos em que a voz de Regina estivesse eternizada, e ela nunca se arrependeu de não voltar a cantar. Porque no fim ficaram só as Rosas, num laço que os prende.
E durante vinte e três anos, ela visitou-o e levou-lhe Rosas, ao camarim da eternidade, Brancas e Encarnadas no aniversário da sua partida.

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